Antes
de se encontrarem aprisionadas nos livros, as palavras eram soltas,
aéreas e partilháveis. A tradição oral transmitia o recado
reinventado por cada boca e cada corpo. Tudo era vivo, e com as
palavras, o gesto, a emoção, o calor, o brilho dos olhos e os
odores das gentes.
A minha primeira aproximação à magia do teatro foi a
ouvir as histórias da minha avó Graciema, meio índia, meio
portuguesa. O grande prazer de contar e de ouvir levaram-me ao
teatro. Para mim é isso: o teatro é o continuador desta
tradição.
Aquela pessoa (o actor) que de viva voz e com o corpo em chamas
nos arrebata do mesquinho quotidiano.
O Rouxinol traz um
desafio: contar uma história. Dificílimo
desafio num tempo onde o teatro compete com a televisão. Tanta
tecnologia, grandes aparatos cenográficos, tantos actores mediáticos
e tantas comemorações estatais. Mas que desafio mais a
propósito.
O Rouxinol é exactamente isso: o confronto entre o natural e o eu
simulacro.
Para contar esta história o
teatro, especificamente o teatro.