A casa velha de madeira 

Ver a sebenta de criação

A Velha Casa de Madeira

ou A máquina do tempo



O Teatro do Montemuro desafiou-me a escrever um texto sobre o encontro entre um velho e uma criança e os conflitos que dele surgissem. Desafiei-os a ser um encontro entre um menino e uma velha senhora. E assim foi.

Inspirado no realismo mágico de Ray Bradbury, meu autor do coração; na minha poeta predilecta Cecília Meireles e o seu jogo encantatório de palavras; no humor truculento dos Contos Tradicionais Portugueses e nas conversas com senhoras idosas fui compondo este texto. Varias sequências que foram se entretecendo com a delicada música Mary Keith – palavras musicais, música poética. Um texto evocativo da minha infância e da intimidade com a minha avó, as suas estórias.

- (...)“ A Estória não quer ser história. A estória, em rigor, deve ser contra a História. A estória, as vezes, quer-se um pouco parecida à anedota.(...) João Guimarães Rosa.

- a sua insubmissão ao poder patriarcal. Assim este texto está mais próximo da estória

- os casos narrados pela velha senhora – “máquina do tempo”. Ela viaja pelo passado sem nenhuma lógica histórica. Na verdade são apenas fragmentos de poesia e de transcendência, trincadas na maça da vida, das memórias e das sensações.
As visitas do rapaz a esta grande mãe isenta de paternalismo é um itinerário iniciático com o passado, o presente e um futuro para além da morte – uma viagem pelas estrelas com a misteriosa poesia de Jorge Sousa Braga.

 


A ENCENAÇÃO
Um teatro para a infância com a confiança e o respeito pela inteligência do seu público. Um trabalho ao ritmo de várias leituras que poderão interessar também os seus acompanhantes – os adultos. Sem concessões ao infantilismo ou a papa-feita.
Encontrei nos actores esta ressonância: um teatro para um público jovem, mas antes de tudo Teatro.
Três actores em cena, a representar Tal como no “faz de conta” das crianças – estas precursoras do próprio teatro com o seu jogo distanciado: “agora faço de velha”, “agora sou o menino”, “agora faço de velho”...

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Assim uma jovem actriz faz de conta que é uma velha senhora fugindo a sete pés aos clichês. Dois actores de 40 anos entram também neste jogo e fazem-se de meninos.
A cenografia imaginada com o Purvim e a Ruby torna-nos viajantes nesta máquina do tempo onde a velha senhora habita. Passado, presente e futuro entrelaçam-se no jogo extra quotidiano pontuado pela presença do actor, sonoplasta, iluminador, músico e projecionista deste cinema transcendental. Deixamos tudo como um desafio a ser decifrado pela imaginação dos jovens espectadores .

José Caldas